30 de mai. de 2010

Quinze dias que se estendem por mais de 20 anos

Um convite repentino e tentador – pelo menos para alguém com apenas quatro anos de profissão pouco a perder e muito a aprender. Ir para Rondônia, estado recém criado, organizar a Assessoria de Comunicação do governo em 15 dias. José Carlos Sá cumpriu com o que se propôs, mas esticou o tempo de permanência em Porto Velho, sede do governo do estado.
Há 24 anos, completados em abril passado, José Carlos iniciou essa história com Rondônia, participando ativamente da comunicação na área de assessoria de imprensa, quando esse nicho do jornalismo ainda engatinhava em Porto Velho. Abaixo, ele conta um pouco sobre aquela época.

Como surgiu o convite para você vir para Rondônia?

Um colega de faculdade, voltando da Venezuela, passou por Porto Velho, entregou o currículo dele no Palácio Presidente Vargas e foi contratado na hora. Meses depois, o governador Ângelo Angelim, aborrecido com as críticas que eram feitas pelos jornais aos releases do Decom, por causa dos erros de concordância – entre outros – pediu ao Márcio Raposo para conseguir um jornalista que “consertasse” a assessoria, pois achava que a coisa era feita de propósito para sabotá-lo. Fui convidado e aceitei.

Como foi seu trabalho durante esses 15 dias?
Fui bem recebido, apesar do estranhamento. O pessoal do Decom – nem a diretora – foi avisado da minha chegada e da missão. Procurei entender como trabalhavam, fiz o diagnóstico e propus as mudanças, que mesmo com resistência de alguns, foram implantadas.

Qual foi seu maior estranhamento em relação ao trabalho?
Não havia pauta, nem revisão. Os repórteres saiam para cobrir as audiências com o governador, ou viagens, sem saber o que fariam. Depois voltavam, redigiam as matérias, que eram redatilografadas, xerocadas e enviadas aos veículos. O que era mais urgente e para o interior, eram enviadas via Telex.

Foi difícil implantar as alterações necessárias?
Foi. Os colegas não eram acostumados a trabalhar com pauta. Eu as deixava nas máquinas de datilografar. Achavam isso impessoal demais. Não havia o costume de gerar assuntos. Eram reativos, ou seja, se contentavam em cobrir eventos e não propor pautas que não estavam já pré-agendados.
Uma outra coisa é que o gabinete não divulgava a agenda do governador. Você só sabia na hora da audiência ou evento. Foi difícil o convencimento do chefe de gabinete para informar à Comunicação e ao Cerimonial com antecedência.

Qual o marco dessa época – o que ficou na assessoria que foi você quem fez?
Pautar os repórteres e agir pró-ativamente. Enviar as matérias logo após o evento, ao invés de fazer isso até quatro dias depois.

O que ganhou outra característica a partir do seu trabalho?
A integração do Gabinete do Governador com os departamentos de Comunicação e Cerimonial, permitindo um melhor planejamento para as coberturas jornalísticas e de eventos.

Como era, naquela época, o trabalho de assessor de imprensa em Rondônia? O que tinha de diferente de Minas Gerais?
O pessoal de redação discriminava os assessores de imprensa aqui e lá. Com razão. Os textos eram sofríveis e o culto à personalidade era o forte. Hoje, de uma forma geral, apesar de ainda existirem assessores com textos ruins, há um profissionalismo dos jornalistas em assessoria de Imprensa (mudaram até o nome da função) e uma avaliação do que enviar aos veículos. 
A partir da esquerda: Abdoral Cardoso, Ciro Pinheiro, José Carlos Sá. Luiz Rivoiro e Lucio Albuquerque

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